Entrevista com o Kântele
Existe um trabalho específico para crianças antes de serem
alfabetizadas?
Flávia: Sim, no sentido de serem
capazes de “ouvir”, silenciar. Com muito cuidado, com
histórias e imagens, sem conscientizar nada. Criamos momentos
para ouvir, para o cantar e a criança aprende a manusear o
Kântele e a tocar canções simples. As crianças, hoje em dia,
já apresentam uma voz grave e desafinada muito cedo,
infelizmente à música já não faz parte do dia-a-dia como
antigamente e, muitas vezes, a professora de jardim e a mãe
não entoam direito. Cada vez mais recebemos crianças
desordenadas interna e exteriormente. A música pode atenuar
essa desordem, harmonizar e equilibrar o processo respiratório
tanto físico como anímico e social. Sabemos que o Kântele, com
sua sonoridade e escala especial, é como uma gota de vida no
deserto sonoro que cerca a criança; deserto no sentido da
falta de adequação, pagodes, rock, jazz e até música popular,
entre outros, que não são adequados nesta faixa etária e só
deixarão a criança mais excitada e descontrolada.
Assim, o trabalho musical quer preparar a criança para que ela
seja capaz de entrar num 1º ano e se aquietar, ouvir e receber
o conteúdo. A criança de primeiro setênio é toda movimento,
assim, começamos o trabalho a partir do corpo todo, cantando e
saltando, girando na roda para chegar ao kântele. Recebemos
muitas visitas como uma lira, outro dia um címbalo, no outro
um triângulo, etc, que vão ampliando a vivência e a percepção
sonora da criança. Há muitos tipos de brincadeiras, de
esconde-esconde, de adivinhação e lindas histórias que nos
ajudam a criar momentos maravilhosamente belos de silêncio ou
de sonoridades delicadas.
Quais os recursos pedagógicos do Kântele e em qual idade
ele é indicado para as crianças?
Flávia: O Kântele é indicado para
crianças de 0 a 9 anos. É muito benéfico para a criança que a
mãe, ao colocá-la para dormir ou contar histórias, toque
sempre para ela. Mais ou menos aos seis anos, a própria
criança já pode manusear o kântele, que possui uma escala
musical toda especial- a escala pentatônica. Essa escala dá a
este instrumento a capacidade de criar uma esfera flutuante,
de sonho, que não adentra a corporalidade física. Esse
ambiente sonoro alimenta profundamente a alma da criança
pequena, de tal forma que é capaz até de harmonizar seus
processos físicos. O Kântele ajuda no processo de “aprender a
ouvir os outros” e o mundo ao nosso redor de uma maneira
intensa e sensível. Assim como a Lira, ele parece dizer” Ouçam
não a mim, mas além de mim”. Os tons dessa escala pentatônica
relembram à criança o mundo espiritual no qual elas entram
todas as noites. É uma ajuda maravilhosa para acalmar e
concentrar as crianças (jardim 6 anos, 1º e 2ºanos). Sua
atuação é direta no sistema rítmico (respiração e batimento
cardíaco) e a forma delicada no gesto de segurar junto ao
coração e tanger as cordas, suscita um sentimento de
reverência e veneração que favorecerão o crescimento do corpo
etérico de maneira sadia.
Indicações pedagógicas e terapêuticas gerais:
Harmoniza ambiente, ajuda a acompanhar o canto, cria ambientes
para contar histórias, propicia uma entrada tranquila no sono
para as crianças pequenas, além de ajudar na concentração e
quietude tão essências no período da alfabetização. Atua
diretamente no sistema rítmico (pulmão e coração) acalmando e
relaxando todo nosso ser.